quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Daniel, Danie-el!


Sorrir. Tudo o que ele faz é sorrir. Brinca com o tempo, diverte-se com tudo, tudo olha, tudo quer. Dentro de seu espaço mínimo – miúdo até – quer abarcar o mundo, quer que ele entre dentro de si para brincarem juntos. Pega isso, joga aquilo. Sorri, largo e sereno. Às vezes um choro leve, maroto, rompe as palavras desconexas que acaba de inventar, mas logo volta a elas como se as testasse a todo instante. Seus significados ficam presos no seu mundo do sempre e agora. Para ele, há de ser agora, já... um segundo e não mais adianta. Palavras, sorrisos e princípios de choro fazem, hoje, parte de seu dia. Curioso ao extremo, tudo é passível de beijo, baba, mordida... se faz barulho, melhor. Interrompe a quietude com sua onipresente risada – gostosa risada! Seu sorriso – ora sem graça, ora de arte – conquista tudo. Tudo parece querer estar com ele. Ele é ímã, não aborrece, nem isola nada, nem ninguém. Todos o querem no colo, arteiro e carinhoso. Há momentos em que se cansa, e basta um “corujinha, corujinha, onde estás, onde estás?”que ele adormece como que chamando a todos para fazer o mesmo. Mas antes, como uma luta constante para não sair da gente, não nos deixar assim, acordados, como se ele fosse perder algo que não poderia jamais. Ele é carpe diem constante. Aproveita cada mastigada, brinca, quer a colher, olha-nos, ri e chora. Participa ativamente de cada segundo nosso como se fosse o mais importante instante! Quer colo, faz manha, puxa os cabelos da gente como se escalasse a mais alta montanha e, quando se vê acima de todos, grita pelo um desafio conquistado. Sobra-nos, não a dor, mais a satisfação de vê-lo feliz. De manhã, já acorda numa alegria e conversa consigo mesmo, contente por estar de novo desperto para suas estripulias. Quando nos vê, pára, olha bem como quem identifica se amigo ou não, sorri rasgado e tenta levantar. – Força. “Me pega, me levanta, me leva”. Palavras e mais palavras, numa dimensão paralela, ele as profere tendo certeza que as entendemos. Todos procuram seus nomes, seu grau de parentesco nos sons que ele diz. Procuram uma relação de afeto único, só entre os dois, um algo que os torne amigos. Ele é lindo! Se soubesse da intenção de cada um e pudesse falar, escolheria uma palavra especial para cada, para que ninguém se sentisse menor diante dele. A nós – pais – reserva um carinho e atenção inigualáveis. Nos proporciona diversão, conversas longas, gestos únicos, em momentos eternizados pela importância de um sorriso ou palavra na hora exata, como intencional para nos tornar ainda mais apaixonados por ele, para nos fazer únicos. Ele nos tortura à espera de um dente que há muito se anuncia vindo, mas que teima em protelar ao máximo sua chegada. Creio ser assim o de toda a criança: quando menos se espera, ele de sopetão surge. Ele é assim dependentemente livre. Tem seus quereres e os une aos nossos em horários e manhas. Almoça metade do dele só para almoçar do nosso, conosco. É livre, bonito, olha para nós como se tencionasse provocar, mas logo algo o distrai e tudo muda, gira de foco, mas o centro continua sendo ele, sempre. Vejo-o como uma criança una, tem seus próprios ‘eus’, assim já de pequeno, sabe ser o neto, o primo, o sobrinho e sabe exatamente ser FILHO. Já conversa com as nuvens como se elas amigas antigas fossem e chegassem de longa viagem. Sim, ele sabe ser ele mesmo em si: onipresente em nós, onipotente em seu mundo de flores, e onisciente de tudo o que precisa saber até agora: nós o amamos. Pode chamá-lo que ele atende, sete meses de vida, porém, inteligente, ele atende: Daniel, Danie-el.

Papai.
Texto que fiz para meu filho quando ele tinha sete meses de vida.

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